A técnica que permitiu a compreensão de muitos mecanismos de patologia da anca e o seu tratamento denomina-se de luxação cirúrgica da anca.

Ao contrario do que possa parecer por ser uma cirurgia “aberta” não é demasiado invasiva, antes pelo contrario, permite o acesso total à articulação da anca e adicionalmente efectuar outros procedimentos, sem causar nenhum dano aos músculos e tendões da anca. Preserva integralmente a irrigação sanguínea da cabeça do fémur.

Esta cirurgia é extremamente versátil e permite tratar quase toda a patologia da anca incluindo conflito femoro-acetabular, fracturas da cavidade acetabular, doenças da anca infantil (com alguns procedimentos adicionais mais complexos) (consulte a secção "Anca infantil").

Pode ser utilizada também para a colocação de próteses.

O procedimento cirúrgico requer instrumentos específicos, especialmente concebidos para o efeito.

O doente fica numa posição lateral durante toda a cirurgia e, normalmente, é necessária uma equipa mais extensa do que noutras cirurgias, pela complexidade dos procedimentos efectuados. Observando a mobilidade com a anca exposta o cirurgião testa todos os movimentos e pode diagnosticar situações de anomalia mecânica muitas vezes não aparente nos exames radiográficos efectuados antes da cirurgia. Esta possibilidade torna a técnica altamente eficaz na resolução dos problemas relacionados com alterações anatómicas ósseas, dos tendões, dos músculos, da cartilagem e do labrum. O acesso à articulação é total, incluindo as áreas posteriores e inferiores não acessíveis por artroscopia. Está particularmente indicada nas formas mais complexas de conflito femoro-acetabular ou deformidades significativas do fémur ou acetábulo (fig. 4 e 5).

Da técnica faz parte uma osteotomia (corte no osso) do grande trocânter que permite o acesso aos planos profundos da anca respeitando integralmente todas as estruturas (fig. 1a,b e c). Uma vez exposta a articulação, o fémur é desarticulado do acetabulo, com possibilidade de correcção de todas as alterações ósseas sem excepção (fig. 2 e 3). No final da cirurgia todos as estruturas são repostas e a osteotomia do trocânter é fixa, com dois ou três parafusos, na sua posição original ou mais abaixo para melhorar a função dos músculos da anca (consulte a secção "Deformidades do fémur proximal").

A recuperação após esta cirurgia implica normalmente uma estadia hospitalar de 3 dias e necessidade de utilizar canadianas cerca de 4 semanas. A retoma da actividade profissional é muito variável, ocorrendo em média dentro de 6 a 8 semanas. O desporto de impacto só deve ser autorizado passado alguns meses.

No caso de fracturas complexas do acetábulo, a possibilidade de luxar a anca em segurança total permite o seu tratamento com visualização total da superfície articular (fig. 3, 4 e 5).

Tal como a artroscopia, esta técnica cirúrgica é consideravelmente exigente e tem uma curva de aprendizagem longa.

Deve ser efectuada preferencialmente por cirurgiões com diferenciação em cirurgia conservadora da anca.

fig 1a: A incisão na pele e feita na parte lateral da coxa, as estruturas superficiais são expostas

 

fig 1b: A osteotomia do trocânter permite expor a cápsula articular (cinzento) sem danificar as fibras musculares e com protecção activa da irrigação arterial da cabeça do fémur (consulte a secção "A anca normal da criança e do adolescente).

 

  

figura 1c: A anca é desarticulada com acesso total as estruturas intra-articulares permitindo o tratamento de todo o tipo de deformidades (cabeça do fémur, cavidade acetabular e labum).

 



fig. 2: deformidade tipo “cam” de grandes dimensões. A exposição com a luxação cirúrgica da anca permite a correcção total de forma extremamente precisa. Na figura observamos uma correcção na região anterior, mas em determinados casos é necessária também correcção posterior.

 


fig. 3: retroversão acetabular. A cirurgia permite a correcção precisa com remoção de parte da parede anterior e reinserção do labrum acetabular com fixação ao osso

 


fig. 4: deformidade extensa da cabeça femoral anterior e posterior num jovem de 16 anos, inacessível por artroscopia. Após cirurgia (imagem da direita) observamos a regularização de todo o contorno da cabeça femoral com bom resultado funcional.

 


fig. 5: “coxa profunda” bilateral com cobertura excessiva da cabeça femoral numa doente de 28 anos. Após cirurgia (imagem da direita) observamos plastia extensa do acetábulo, permitindo aumentar a mobilidade das ancas e desta forma melhorar a qualidade de vida. Repare-se na correcção das linhas correspondentes ás paredes do acetábulo. Na anca direita foram retirados os parafusos que ainda se observam à esquerda.

 

Fig. 6: Planeamento do tratamento de uma fractura complexa da cavidade acetabular.

 


fig. 7: A fractura da anca direita da cavidade acetabular com elevado grau de complexidade tratada com a técnica da luxação cirúrgica da anca. Conseguida uma reposição completa da anatomia normal.

 


fig. 8: Na radiografia da esquerda observamos uma lesão traumática da anca de gravidade acrescida: fractura da parede posterior do acetábulo e simultaneamente da cabeça do fémur (seta vermelha e amarela respectivamente). À esquerda a mesma anca depois do tratamento utilizando esta técnica. A anatomia pode ser restituída integralmente melhorando muito o prognóstico.

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