A osteotomia periacetabular “bernese” ou de Ganz tem sido utilizada em centros de referência (de cirurgia conservadora da anca) para corrigir a displasia e prevenir o aparecimento de osteoartrose (consulte a secção "Displasia da anca e conflito femuro acetabular").

Trata se de uma osteotomia com a forma poligonal que é efectuada de forma precisa em torno da cavidade acetabular separando-a do resto do osso e permitindo a sua re-orientação no espaço (video 1 e 2). Esta cirurgia tem vantagens em relação a outras procedimentos porque permite correcções de grande amplitude, tratar a displasia e outras deformidades da cabeça do fémur em simultâneo (consulte a secção "Displasia da anca e conflito femuro acetabular") não altera de forma significativa a forma da bacia não interferindo com as dimensões do canal de parto (pode permitir nas senhoras um parto normal).

A complexidade técnica tem a ver com a precisão dos cortes, preservação da vascularização arterial do osso e com a fixação rigorosa do fragmento ósseo na posição ideal.

O procedimento cirúrgico requer instrumentos específicos, especialmente concebidos para o efeito

O primeiro corte é feito por baixo e por trás da anca numa região da bacia chamada “isquión” (fig. 1) com o auxilio de um instrumento especifico.
 


fig. 1: O primeiro corte é feito com um instrumento especial curvo no isquión passando por trás da anca e da cavidade acetabular. À esquerda vista como se estivéssemos a olhar de dentro da bacia, à direita como se estivéssemos a olhar por trás e por fora.

O segundo corte é feito de seguida no púbis (fig. 2)

fig 2: O segundo corte é feito no púbis com controle visual directo e protecção de estruturas nervosas


O terceiro corte, o mais complexo (fig. 3), é feito na asa do ilíaco de tal modo a unir-se ao primeiro. O fragmento fica assim livre e pode rodar no espaço (fig. 4)


fig 3: O corte superior é o mais complicado, exige grande precisão por forma a que a sua extensão inferior se venha a unir ao primeiro. O fragmento é separado com o auxilio de pinças especiais. Rodado para a posição de correcção óptima. É sempre feita uma radiografia de controle antes da sua fixação definitiva.
 


fig. 4: A re-orientação do fragmento acetabular é efectuada com precisão até a posição de fixação definitiva com 4 parafusos ou nos casos mais complexos com uma placa e parafusos. Esta fixação, extremamente estável é garantida pela sua forma poligonal.

Durante a cirurgia, a articulação pode ser aberta pela parte anterior por forma a expor a cabeça e o colo do fémur, tratar eventuais deformidades, optimizar a anatomia e melhorar a função (fig. 5).


fig 5: observamos nesta preparação a exposição ampla da cabeça e colo do fémur que esta cirurgia permite. (linha traçada sobre a cartilagem). No caso de existir uma deformidade tipo “cam”, pode ser facilmente tratada no mesmo tempo operatório (consulte a secção "Displasia da anca e conflito femuro acetabular").

Para além de tratar a displasia (fig. 6), a osteotomia “bernese” pode ser utilizada para tratar situações de retroversão quando o acetábulo tem dimensões normais, mas está orientado posteriormente (fig. 7). A técnica utilizada para efectuar os cortes e a forma de re-posicionar o fragmento diferem da cirurgia clássica. Por esse motivo é denominada osteotomia periacetabular invertida (consulte a secção "Retroversão acetabular").

 


fig 6: radiografia antes e após a cirurgia de uma doente de 38 anos com displasia acetabular grave tratada e com cerca de 4 anos de seguimento após a cirurgia. Repare na evolução positiva da anca direita com melhoria significativa da entrelinha articular.
 


fig 7: radiografia antes e após a cirurgia de um doente de 27 anos com retroversão acetabular. Note que o cruzamento das linhas da parede acetabular que aparece na orientação espacial posterior, desaparece com a cirurgia, passando a anatomia a ser normal  (consulte a secção "Retroversão acetabular").

A recuperação depois desta cirurgia implica normalmente uma estadia hospitalar de 5 a 7 dias e necessidade de utilizar canadianas durante cerca de 6 semanas. A retoma da actividade profissional é variável ocorrendo em média dentro de 8 semanas.

A complexidade deste procedimento exige que o cirurgião esteja bastante familiarizado com os vários passos minuciosos e que tenha experiência em cirurgia da bacia. Os resultados são bons a longo prazo, sendo a sobrevida da anca jovem e sem alterações degenerativas, operada desta forma, superior à de qualquer tipo de prótese.

Video 1: Osteotomia periacetabular

A osteotomia periacetabular consiste num corte efectuado no osso ilíaco à volta da cavidade acetabular. Repare na região a vermelho na parte de cima do acetábulo que corresponde à cartilagem sobrecarregada na displasia. A osteotomia modifica a posição dessa cartilagem e aumenta a cobertura lateral da cabeça do fémur

Video 2: Rotação do acetábulo

Com a rotação do acetábulo, a cabeça do fémur fica mais estável e a pressão exercida na cartilagem é menor porque a área de contacto passa a ser maior

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