A doença de Perthes ou Legg-Calvé-Perthes (nomes dos 3 autores que a descreveram ao mesmo tempo) é uma das causas de dor da anca na criança. Durante o crescimento podem existir alterações da irrigação sanguínea da cabeça do fémur. A irrigação insuficiente pode levar à morte de parte do tecido ósseo com deformação e perda da sua esfericidade. Assemelha se à necrose isquémica da cabeça femoral no adulto. A principal diferença é a capacidade de remodelação da cabeça do fémur na criança que não existe no adulto. Manifesta se entre os 4 e os 10 anos, é mais frequente no sexo masculino e em 10% dos casos é bilateral.

As manifestações clinicas são dificuldade na marcha e dor à mobilização por espasmo muscular, sem repercussões sistémicas. Pode existir apenas um desconforto ou uma dor vaga na virilha e ou no joelho (em cerca de 50% dos casos a dor proveniente da anca pode manifestar se irradiando para o joelho). Na radiografia pode-se observar um aumento da densidade óssea. Em seguida a cabeça começa a fragmentar-se e finalmente ocorre a revascularização com remodelação tardia. (fig.1). Muitas vezes a deformidade da cabeça na criança leva à deformidade do acetábulo e displasia secundária da anca (fig. 2).

adiografia de uma criança com 9 anos de idade com doença de Perthes na anca esquerda

fig 1: radiografia de uma criança com 9 anos de idade com doença de Perthes na anca esquerda. As setas amarelas apontam para a área de necrose extensa em remodelação do 1/3 externo da cabeça femoral.


Radiografia de um doente com 22 anos e sequela de Doença de Perthes bilaterala

fig 2: radiografia de um doente com 22 anos e sequela de doença de Perthes bilateral. Repare no trocanter subido, a cabeça oval e a displasia do acetábulo. Estas sequelas podem ser tratadas na idade adulta  (consulte a secção "Deformidades do fémur proximal")

A evolução natural será para a cura expontânea através da revascularização das áreas necrosadas da cabeça do fémur. Trata-se de um processo longo que demora pelo menos 18 meses. Desta forma a mobilidade articular tende a melhorar, ou mesmo voltar ao normal, no entanto, nos casos mais complicados, isso pode nunca acontecer devido à deformidade que se estabelece. Nesta situação, o risco de desenvolver uma artrose na idade adulta é grande (consulte a secção "Que doenças pode ter a sua anca?").

o tratamento o princípio básico é retirar a dor para evitar o espasmo muscular e manter a mobilidade articular. Estes princípios têm em vista manter a congruência das superfícies articulares e a esfericidade da cabeça do fémur. Nos casos onde a deformidade é maior, a articulação pode não funcionar apesar da remodelação e o tratamento cirúrgico pode ser uma opção

As técnicas convencionais consistem em realinhamentos extra-articulares com potencial de correcção limitado. Recentemente foram descritas técnicas de cirurgia intra-articular mais avançadas e que se baseiam no conhecimento detalhado da irrigação sanguínea da extremidade proximal do fémur (consulte a secção "Anca infaltil") e que permitem uma correcção mais eficaz da própria deformação - redução da cabeça femoral - (fig 5 e 4a,b). Os resultados são promissores, mas ainda com pouco tempo de seguimento.

Apesar do tratamento a doença de Perthes pode deixar alguma deformidade residual, razão pela qual é necessário informar sempre os pais e dar alguns conselhos em termos da actividade física permitida.

fig. 4a (esquerda) - esquema que mostra a deformidade da cabeça femoral, do acetábulo e labrum. 4b (direita) o conhecimento da vascularização da cabeça femoral permite a técnica de redução da cabeça e uma melhor congruência (encaixe) da articulação.


 Caso de doença de Perthes grave numa criança com 8 anos 

fig. 5: caso de doença de Perthes grave numa criança com 8 anos. À esquerda notamos a forma elipsoide antes da correcção cirúrgica do volume da cabeça femoral. À direita, mais esférica, depois da correcção. Observe-se a congruência articular melhorada. (O seguimento a longo prazo desta cirurgia não está descrito em nenhuma publicação conhecida).

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