As doenças da anca em crescimento podem causar dor na virilha ou dor irradiada na coxa e/ou no joelho, e recusa de marcha e no suporte do peso do próprio corpo. Existem muitas causas para estes sintomas e o diagnóstico nem sempre é fácil. A sinovite transitória, uma das causas mais comuns de dor na anca infantil, deve ser diferenciada da artrite séptica. Outras causas podem ser doenças específicas da anca em crescimento como a doença de Perthes, epifisiólise superior do fémur e fracturas por avulsão óssea das inserções dos tendões na bacia.

A anca da criança do ponto de vista da morfologia não é como uma “miniatura da anca do adulto”. (consulte a secção "Anca normal"). As principais diferenças que encontramos são:

  • A presenca de cartilagem de crescimento na zona de transição da cabeça femoral para o colo femoral (cartilagem de crescimento ou fise da cabeça femoral), responsável pelo crescimento normal da cabeça do fémur e alongamento do colo. No caso de lesão ou traumatismo desta região podem existir anomalias graves no desenvolvimento da cabeça do fémur. (fig1).
  • A presença de cartilagem de crescimento no grande trocanter (fig1).
  • A cartilagem de crescimento tri-radiada do acetábulo que o faz crescer em profundidade e largura por forma a manter a sua esfericidade côncava e alojar a cabeça do fémur. Quando é lesionada ou quando existe uma alteração do seu desenvolvimento está na origem de deformidades do acetábulo, entre as quais a displasia (consulte a secção "O que é a displasia da anca?") e/ou a retroversão acetabular (fig1A e 1B) (consulte a secção "Retroversão acetabular").

Radiografia normal de uma bacia de uma criança com 13 anos

figura 1A: Radiografia normal de uma bacia de uma criança com 13 anos, observem-se as cartilagens de crescimento ainda perfeitamente abertas, marcadas com as linhas vermelhas

 

Fotografia de osso ilíaco de criança (8 anos)

figura 1B: Fotografia de osso ilíaco de criança (8 anos) onde se observa a cartilagem tri-radiada acetabular na sua face externa - acetábulo e interna

 

  • Nas ancas mais imaturas, as estruturas que, mais tarde darão origem ao colo, cabeça e grande trocânter, são ainda constituídas parcialmente por cartilagem que progressivamente se vai transformando em osso. (fig. 2a e 2b)

 Desenvolvimento progressivo dos núcleos de ossificação do fémur proximal desde os 4 meses até aos 6 anos 

figura 2a: desenvolvimento progressivo dos núcleos de ossificação do fémur proximal desde os 4 meses até aos 6 anos. Repare como a cabeça do fémur e o trocanter ossificam a partir de um molde de cartilagem, que fica separado do colo pela cartilagem de crescimento.

 

figura 2b: na criança com 12 anos a cabeça do fémur e o trocânter ja estão completamente ossificados.

A cartilagem de crescimento da cabeça do fémur é comum ao grande trocanter e permanece activa. Só encerrará depois da puberdade.

Pensa-se que a não separação das cartilagens de crescimento do trocânter e da cabeça do fémur pode dar origem a uma cabeça do fémur “ovalada” tal como acontece na deformidade “cam” (consulte a secção "O que é o conflito femuro-acetabular?" )

 

  • A perfusão sanguínea da cabeça do fémur nas crianças, quando a cartilagem de crescimento ainda está fechada, depende exclusivamente de um sistema arterial anastomótico (em rede) na região posterior do colo femoral. Este conhecimento é fundamental em qualquer das técnicas cirúrgicas modernas de preservação da anca na criança e no adulto (fig. 3)
fig.3 Esquema da perfusão arterial da cabeça do fémur na criança

figura 3: Esquema da perfusão arterial da cabeça do fémur na criança.

Não existe passagem de sangue do colo femoral para a cabeça pela presença da cartilagem de crescimento.

Em todas as técnicas de preservação da anca, incluindo a artroscopia, este conhecimento é fundamental para o ortopedista.

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